Diretor: Tim Wardle

Os trigêmeos Robert, David e Eddy, adotados por famílias diferentes, descobrem a existência uns dos outros aos 19 anos, completamente por acaso e de forma inusitada. Nem as famílias adotivas sabiam dos irmãos, nem os irmãos sabiam que tinham gêmeos. Assim começa o documentário da NetFlix Três Estranhos Idênticos. Devido ao ineditismo da descoberta, eles tornam-se alvos de reportagens em jornais de grande circulação, entrevistas em programas de auditório e viraram celebridades instantâneas. Embevecidos pela fama e imersos na relação fraternal, só muito tempo depois é que segredos obscuros vem à tona.

Nos anos 60, a Agência de Adoção Louise Wise, administrada por judeus, designou uma família diferente para cada uma das crianças deixadas pela mãe biológica. Ou seja, separou os irmãos em vez de, como recomendado, uni-los numa mesma família. Alegaram que assim seria mais fácil acomodá-los. Eles cresceram e se desenvolveram aparentemente saudáveis e não muito distantes geograficamente, nos arredores de Nova York, até o encontro que mudaria a vida dos três.

Os pais adotivos e os jornalistas desconfiaram do excesso de coincidências e passaram a questionar os responsáveis pelo processo. Uma investigação da revista The New Yorker descobriu que aquela história extraordinária que parecia aleatória, na verdade foi planejada em detalhes para uma pesquisa científica. O psiquiatra austríaco Peter Neubauer desenvolveu um estudo para analisar de que maneira a genética influenciaria o desenvolvimento de gêmeos em ambientes socioeconômicos distintos e os garotos Robert, David e Eddy serviram como cobaias. Tudo pensado e organizado de maneira premeditada. E não foram os únicos, haviam outros. Ficamos sabendo que uma equipe de técnicos visitava os gêmeos regularmente: fazia testes, filmava e aplicava questionários.

Ao longo do documentário, imagens e entrevistas mostram que as semelhanças entre eles, não só fisicamente quanto de personalidade, superavam as diferenças. É possível concluir, baseado no caso dos trigêmeos, que a programação genética é mais forte do que o ambiente? Que a personalidade está tão impregnada nos seres humanos que, não importa história de vida e influências externas, existe um certo determinismo em nossas ações e escolhas? É difícil afirmar com certeza. O estudo do psiquiatra Peter Neubuaer acabou não sendo publicado, não se sabe bem o motivo.
Para pretendentes à adoção ou mesmo para pais e mães biológicos ou não, esse documentário lança luz sobre limites dos esforços em influenciar comportamento, personalidade e caráter dos filhos, sejam adotivos ou biológicos.

Autor da resenha: Welington Liberato dos Santos

Onde assistir: https://www.netflix.com/watch/80240088?source=35